sábado, 13 de fevereiro de 2010

Crónicas de uma rapariga gira [2º Série] 6ª

Guardo uma crença há anos. A crença de que é possível inventarem-se novos tipos de relações de amor. Quando falo aqui em relação de amor, refiro-me à relação entre duas pessoas que partilham entre várias outras coisas uma relação física. Todas as nossas relações de intimidade são obviamente de amor e, o que habitualmente fazemos para as diferenciar é dizer a todas essas pessoas que gostamos delas e, a uma em especial que a amamos. É por este motivo que lhes chamo relação de amor.

Por diversas vezes, tentei explicar a minha crença sobre os novos tipos de relações, mas as pessoas em geral acabam sempre a catalogar o que eu digo sob os nomes que conhecem: namoro, casamento e união de facto. Eu acredito em relações sem nome, mas com emoções e sentimentos fortes. Com piada observo cada vez mais pessoas que encontram formas alternativas de estar numa relação de amor, o que faz com que fortaleça a minha crença. Apesar disso, reconheço que a falta de nomes para essas novas formas de relação nos dificulta a aceitação de que existem e são possíveis. É incrível a necessidade que temos de rótulos e como se recusa o que não é nomeável.

As relações conforme as conhecemos nos nossos pais, não me parecem possível para mais de metade das pessoas da geração que nasceu nos anos 70. No entanto, está na natureza as pessoas quererem ter uma relação de intimidade exclusiva, porque lhes dá um suporte que de outra forma é sempre ténue. Por este motivo continuam a tentar as relações de acordo com os velhos padrões e, muitas das vezes a sentirem que estão a falhar. Somos uma geração independente, com várias possibilidades, que queremos viajar, somos autónomos, procuramos sentirmo-nos bem, preocupamo-nos com o corpo, queremos ter experiências de todos os tipos, queremos saber mais, temos acesso a muita informação, temos nos amigos uma parte da família,  somos menos religiosos e, poderia continuar por aí fora na caracterização da geração do 25 de Abril. Com tudo isto, muitas pessoas têm receio que o compromisso lhes retire isso. Compreende-se, porque as relações dos nossos pais eram pouco caraterizadas por todas estas características.

Ora, se queremos manter tudo o que temos à disposição, mas queremos ter relações de amor, temos de ser criativos. Inventar novas formas de estar nas relações de amor. Pode viver-se com alguém e não querer ter filhos. Pode nunca viver-se com alguém, mas ter uma relação de amor entre duas casas com essa pessoa especial. Pode viver-se em países diferentes e manter uma relação de amor, com ou sem filhos. Pode não ser namorado/a nem esposo/a e ser a pessoa amada. Algumas pessoas contestam que se é assim não sobra nada para manter uma relação de amor. Acho que não entendem que sobram muitas coisas. Sobra o companheirismo, a segurança, a confiança, a partilha, o desejo e o podermos ser nós próprios. Para mim, estas sobras são as verdadeiramente importantes. E são estas que têm de ser alimentadas e mantidas em vez do nome namorados ou casados ou pais. É preciso muito investimento para manter uma relação de amor acente nestes 6 pilares. É preciso particar-se muito a honestidade. É preciso dedicação e estar presente. Nestas relações sem nome, é ainda mais importante mostrar-se com actos o amor pela outra pessoa. Não esconder a relação, porque as novas relações de amor são, também, aquelas que partilhamos com quem nos rodeia.

Uma das coisas que algumas pessoas acusavam a minha crença é de que esta se tratava de pseudo-intimidade, de relações clandestinas, de relações em que cada um vive para o seu lado. Parece uma incapacidade de olhar para o diferente, de ver para além dos nomes que dão às coisas.


1 comentário:

  1. Concordo contigo. Lealdade e fidelidade, por exemplo, não são a mesma coisa...

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