Há experiências que as pessoas preferem fazer de conta que nunca aconteceram. Dão-lhes uma importância mínima. Ignoram-nas. Fecham-nas algures num pedacinho do quarto das recordações. Esquecem-se que se é o resultado das experiências que sevão tendo ao longo da vida. E é por isso que, por vezes, se é apanhado de surpresa quando alguma dessas coisas que se pensava ter arrumado bem no quarto das recordações volta a aparecer no meio de uma conversa ou de uma vivência.
São ínumeras as experiências negativas que se arruma nesse espaço. É a forma de se manter a sanidade mental quando resolver parece impossível. Como é óbvio isto é um mecanismo bom, quando se volta mais tarde ao quarto e se arruma a questão numa prateleira com identificação. No entanto, a maioria das vezes fica ali pousada no chão e não se volta a fazer nada com essa experiência. Posso, quase, afirmar que só se volta a esse assunto quando ele é impeditivo de se ser feliz em algum aspecto que é valorizado.
Lembro-me de uma rapariga que conheci, em tempos , que com a sua experiência de ter sido abusada, tinha desenvolvido uma relação com o seu próprio corpo, como se este não fosse importante. Como se o corpo e o sexo fossem aspectos menores quando comparados com o dar a conhecer os gostos, as manias, os desejos. Por esse motivo, se dava o corpo, guardava a alma. E se desse a alma, guardava o corpo. Nunca conseguia misturar as duas numa mesma relação. Era como se fossem duas coisas separadas e, ora optava por uma, ora optava pela outra. Excepcionalmente conseguiu juntar ambas na mesma relação, apesar de aparentemente ter mantido a dualidade. Acho que foi quando a confrontei com isso que percebeu que mantinha esta experiência no chão do quarto das recordações.
Falamos algumas vezes sobre o assunto. Sabia que ela precisava de lá voltar e refazer a experiência. Não sei bem se ela voltou ou não ao quarto das recordações para arrumar as experiências na prateleira e deixar de pensar que se desvalorizasse a importância que dava ao corpo resolveria qualquer abuso que lhe fizessem. Não tenho a certeza se deixou se se sentir culpada. Tão pouco sei se conseguiu algum dia sentir-se completa. Por ela, espero que tenha voltado ao quarto das recordações, tantas vezes, quantas as necessárias para integrar o corpo com a alma, sem se sentir desprotegida, nem usada.
Falamos algumas vezes sobre o assunto. Sabia que ela precisava de lá voltar e refazer a experiência. Não sei bem se ela voltou ou não ao quarto das recordações para arrumar as experiências na prateleira e deixar de pensar que se desvalorizasse a importância que dava ao corpo resolveria qualquer abuso que lhe fizessem. Não tenho a certeza se deixou se se sentir culpada. Tão pouco sei se conseguiu algum dia sentir-se completa. Por ela, espero que tenha voltado ao quarto das recordações, tantas vezes, quantas as necessárias para integrar o corpo com a alma, sem se sentir desprotegida, nem usada.
É por isso que insisto muitas vezes em não pousar as coisas no chão. Em integrar as experiências até terem um´nome numa das prateleiras. Não quero ser desintegrada em pequenas peças que não sei ou que não tenho vontade de arrumar. Tenho ainda algumas coisas no chão. Coisas que vou ter de limpar, deitar fora e ficar apenas com o essencial para ter espaço nas prateleiras, para as experiências que estão aqui à espera de terem um espaço especial. Pode custar, mas este é um quarto que se quer bem arrumado para dar sentido ao presente.
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