quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Para o Victor: - "Então gaja?"

Nunca tive coragem de te escrever nada, desde que ficaste doente. Não foi por mal, mas nunca soube o que dizer a alguém que recebe a sentença de uma morte anunciada a curto prazo. Sabes, como tu bem sabes, chorei desde o momento em que soube que tinhas um cancro, até ir à tua missa de 7º dia. Chorei de cada vez que te fui visitar, porque nunca tive nos lábios palavras para te dizer que és como um irmão  mais velho, uma referência para mim, que me dava a energia para ser uma pessoa melhor. Durante um ano inteiro, não fui capaz de dizer o quão importante és para mim! Sinto-me presa a esta sociedade que nos encolhe os sentimentos a uma dimensão de fraqueza. Não te consegui pegar na mão, quando estavasa sofrer naquela cama de hospital, porque para mim tu és vida. Naquele momento estavas demasiado perto da morte para eu conseguir aguentar tocar-te. Quis ir lá na esperança de poder dizer o que calei durante um ano inteiro, mas quando fui confrontada contigo naquela cama não me senti capaz de dizer nada.

Está a dar na televisão o concerto dos Xutos. O concerto dos 30 anos. lembras-te do concerto dos 25 anos, no Ermal? Ou do concerto dos 20 anos no Hard Rock? Este tu gravaste... Mandavas-me calar para não estragar a gravação, "gaja"!

O que te quero dizer, por estar preso numa rede há tanto tempo, é que te adoro. Que agradeço cada memória do Porto Santo e de Câmara de Lobos. Que sem ti, nunca os caracóis da marina teriam existido com a força que tiveram. Que o efeito evel sem ti não é mesmo. E que tenho pena de não ter ficado mais tempo contigo, porque estava cansada. Há cores que sem a tua presença ficaram diferentes. Mas acima de tudo, que as nossas conversas mantêm-se vivas em mim e, que muitas vezes desejo poder perguntar-te o que fazer. E sabes, sinto muito a tua falta. Mesmo muito. Descobri em Buenos Aires um sítio que ias gostar tanto.

Não acredito que exista vida depois disto, mas em mim manténs uma parte da tua vida, porque eu continuo a partilhar muito da minha vida contigo, gajo.

Adeus. Vou dormir.
Saudades.
um beijinho

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